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Ser normal é coisa que não existe. Todos temos as nossas particularidades e necessidades especiais. Então porquê termos que nos conformar com uma filosofia de vida "one size fits all"?
Nos bons tempos de humor disruptivo do Herman José habitámo-nos a dizer que a vida é como os interruptores, umas vezes para cima, outras para baixo.
Mas os interruptores já não são o que eram e olhando bem para a vida o que podemos dizer é que ela dá muitas voltas. E nessas voltas, sim, umas vezes estamos em cima e outras mais em baixo.
Este ano, no aniversário do meu filho mais novo, levámo-lo a um parque de diversões e talvez pela primeira vez andámos todos juntos na roda gigante. Não era o London Eye mas lá de cima via-se uma extensão considerável de uma paisagem lindíssima e a operadora da roda até a parou um pouco para que pudéssemos desfrutar melhor daquele momento. Não era o London Eye mas era o melhor que tínhamos naquele momento e agarrámos a oportunidade. Olhando cada porção de terreno. Sentindo-nos livres, poderosos, intocáveis até, lá em cima.
Mas pouco depois a roda retomou a marcha, trazendo-nos para baixo. E cá em baixo não há uma paisagem para desfrutar; onde quase roçamos o chão não há sensação de poder. Há, sim, um monte de gente a olhar para nós, impacientes por tomarem o nosso lugar. Eventualmente lá saímos da roda e fomos fazer outra coisa.
Hoje, ao ouvir tantas histórias de pessoas que estavam tão bem e de repente, numa das voltas da vida, vieram parar cá abaixo abruptamente, não posso deixar de comparar essa realidade com uma grande roda. Vamos subindo com esforço, à custa de muito trabalho e de boas decisões. E quando damos por nós estamos lá em cima: vemos tudo à volta, sentimo-nos bem connosco próprios, somos a suma autoridade lá do sítio. Isto quando sequer olhamos em volta pois muitos há, tão atarefados e com os olhos presos no que não está bem, que nem tomam o tempo para desfrutar. Mas eis que algo acontece e a roda desce um pouco e depois mais um pouco e um pouco mais e quando percebemos estamos quase cá em baixo, a comer pó. E a roer-nos pelas perdas, pelas más decisões, pelos inconseguimentos…
Nada do que façamos nos impede de experimentar esta realidade. É inevitável que assim seja. Ninguém consegue sobreviver todo o tempo no topo da montanha e não é agradável passar toda a vida no vale. O importante é o que fazemos na viagem, o que aprendemos. E se olharmos com atenção, deixando por um pouco de colocar as nossas circunstâncias como única paisagem à frente dos nossos olhos, perceberemos que mesmo na parte de baixo da roda é possível encontrar razões para desfrutar da vida. E encontrar forças para subir outra vez.