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Ser normal é coisa que não existe. Todos temos as nossas particularidades e necessidades especiais. Então porquê termos que nos conformar com uma filosofia de vida "one size fits all"?
Estou em trabalho no Rio. Durante a semana não dá para ir à praia nem para ir passear nem sequer para ir às compras porque trabalho é isso mesmo: trabalho.
Saímos logo de manhãzinha, estamos às 9h no escritório, saímos depois das 20h ou 21h e ainda tentamos falar com a família e ver-lhes a cara, e então, finalmente, vamos comer qualquer coisa. Chegamos ao quarto mais mortos que vivos, perto da meia noite e no dia seguinte tudo se repete. Hoje nem tivemos tempo para almoçar, e uma alma caridosa trouxe-nos 2 pacotes de bolachas, que a dividir por 8 ou 9 foi... pouco.
O meu quarto é pequeno. Limpo, simpático, mas pequeno. Claro que para o tempo que eu passo lá é suficiente. E sendo pequeno há pouco para contemplar quando me deito. Além de que os pensamentos vêm em catadupas começando, é claro, pela família. Como será que eles estão? como têm sido estes dias além daquilo que se vê? Mas rapidamente chego a outros pontos, outros lugares: Como será a vida daqueles que passam semanas a sair ao domingo à noite e a regressar à 6ª ou sábado? Como será que se gere uma família a sair aos 3 meses de cada vez? Será que um dia, o lugar para onde vão, aquele quarto de hotel que pode bem ser o mesmo, repetidamente, não acaba por parecer a sua casa? Será que ao fim de tanto tempo não saberão melhor onde estão as manchas e desenhos das paredes do quarto do que os nomes dos amigos dos filhos?
Infelizmente esta é a realidade de tanta gente hoje. O que será que cada um guarda no seu coração? Claro que todos somos animais de hábitos, e todos fazemos o que acreditamos que temos que fazer para sobreviver ou para viver melhor. Mas a certa altura as saudades acumuladas decerto dão lugar a outro tipo de sentimentos, quais serão eles? A ilusão de que está tudo bem? A certeza de que não tem outro jeito? A desesperança por dias melhores?
Hoje é dia dos namorados em Portugal, um dia a que não dou uma importância especial. Mas já falhei dias de aniversário por estar fora em trabalho. Foi um dia, e comemorámos depois. Mas quem passa a vida fora, como faz? E quem vai para um local diferente a cada semana? Como é que isto se gere e qual é o limite? A minha realidade é tranquila, muito tranquila, em comparação com o que aqui descrevo. Mas quem não consegue estar em casa mais do que um punhado de dias em cada mês, se tanto, como é que faz? Onde é que isto pára, qual é o limite?
Hoje é dia dos namorados em todo o lado menos no Brasil, e eu aqui no meu quarto de hotel a pensar nestas coisas...