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Ser normal é coisa que não existe. Todos temos as nossas particularidades e necessidades especiais. Então porquê termos que nos conformar com uma filosofia de vida "one size fits all"?
É uma quase-lei do universo e não há nada a fazer. Nem abrir a cabeça aos mais cépticos, porque cada um tem o seu sistema de crenças e valores e não mudam só porque há alguém a querer fazê-los ver "a verdade". Mas o que é a verdade ao certo? Números e factos são imutáveis mas podem ser lidos de variadíssimas formas. Por exemplo se dissermos que este mês a taxa de desemprego desceu há quem diga que tal aconteceu pela magnífica ação do governo... e há quem diga que apenas se deve à emigração continuada a que temos assistido.
Acontece assim com tudo na nossa vida. Porque quando olhamos para factos e números não olhamos apenas com o raciocínio mas com ideias pré-concebidas, com um sistema de valores que fomos adquirindo ao longo da vida e até com as necessidades que carregamos no momento. E se é assim com questões objetivas, ainda mais com questões totalmente subjetivas como um jogo de futebol, ou com religião, ou com política.
Veja-se o caso Marquês que dividiu logo as opiniões. De um lado, uma teoria da conspiração de que este tema foi estrategicamente gerido para estragar a vida ao PS e ao seu secretário-geral. De outro, a magnífica coragem da Justiça em deter um ex-primeiro e o empenho em puni-lo exemplarmente. A verdade, como depressa se descobre, há-de estar algures no meio, entre o célebre ditado de que "onde há fumo há fogo" e a repulsa pelo facto da detenção ter sido "assobiada" a uma cadeia de televisão, e mais um universo inteiro de mini-casos ou de comparações com o Al Capone.
Claramente, as pessoas acreditam no que querem acreditar, e muitas vezes para provarem a veracidade daquilo em que acreditam omitem ou distorcem factos porque de outra forma não caberiam nas suas teorias. A sorte de todos nós é que ao longo da vida mudamos as nossas crenças, porque adquirimos experiência - e muitas vezes, juízo. A nossa sorte é termos inteligência suficiente para adaptarmos o raciocínio ao que vamos experimentando. A nossa sorte é que, quando vivemos algo que nos marca profundamente, somos capazes de alterar até a nossa perspetiva mais dogmática. E muitas vezes isso significa simplesmente tornarmo-nos mais pessoas.