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A decisão fácil ou a decisão certa?

por doinconformismo, em 28.08.14

Sempre tive um sentido de justiça muito forte. Quando criança cheguei a confrontar adultos por atitudes que considerei inadequadas ou injustas no momento. E ainda hoje sou assim, não suporto injustiças e não suporto falsidades e tenho sempre que lidar com isso mesmo quando às vezes não é comigo. Mas quando é, ainda pior.

 

A minha avó paterna, que foi a minha segunda mãe, sempre me repreendeu. "O calado vence tudo" dizia-me ela, vezes sem conta, quando eu começava a refilar por causa de situações com as quais não concordava, muitas vezes ignorando a autoridade de quem tinha tomado a decisão.

Pois bem, para mim, estar calado é a decisão fácil. Deixar andar, fazer de conta que não é nada connosco até porque de facto às vezes não é mesmo, pelo menos diretamente, encolher os ombros, virar as costas, fazer vista grossa... o que se quiser. É confortável. É quase como a Suiça, permanecemos neutros aconteça o que acontecer.

 

A minha natureza impetuosa, justa, com necessidade de colocar ordem no caos, não me permite fazer isso. Intervenho quando posso sempre que observo um certo nível de caos, um certo nível de injustiça. Por isso para mim a decisão certa nunca é "não fazer nada". Isso seria fácil demais. A decisão certa é intervir, resolver, mesmo quando essa intervenção acarreta prejuízos pessoais. E tentar, tentar, e voltar a tentar. Insistir, empurrar. Até resolver. Ou até me cansar. E mesmo depois de cansada, voltar a tentar e tentar mais uma vez. Mas quando o cansaço vence, a decisão certa passa a ser outra: afastar-me. E essa é normalmente uma decisão muito difícil, tomada entre muitas lágrimas e dúvidas e vontade de tentar outra vez. Até que com alguma racionalidade entendo que não vale a pena. 

 

Costumo comparar esta situação com o esforço de uma equipa médica em reanimar um doente cujo coração parou. Tentam tudo e voltam a tentar. Até que percebem que já não dá mais. Não é desistir, é aceitar a realidade. Mas aceitá-la com a certeza de que tudo o que podia ser feito para evitar aquele desfecho, foi feito. O que traz um descanso completamente diferente não só no momento mas principalmente quando os remorsos quiserem atacar.

Por isso, para quem lê estas linhas: não desistam de algo que querem muito e que sabem que está certo sem antes terem feito tudo o que está ao vosso alcance para resolver essa situação, mesmo que esse "tudo" possa prejudicar-vos de alguma forma. Isto aplica-se a um relacionamento, emprego, o que for. E quando tiverem mesmo que se afastar façam-no com a certeza de que não poderiam ter feito mais nada, absolutamente mais nada. Não reduz a tristeza, mas mantém a nossa integridade.

Os homens também sofrem

por doinconformismo, em 26.08.14

Pois sofrem, e muito. Sofrem porque desde pequeninos são mimados pelas mamãs, tias e demais e embora hoje em dia não haja uma mentalidade sexista tão evidente, há poucas décadas atrás era normal que se pensasse que o trabalho da casa era das mulheres e os homens não precisavam de fazer nada. Verdade, especialmente quando aos homens cabia garantir o sustento fora de casa e às mulheres o trabalho do dia a dia.

Mas isso mudou. Hoje em dia são raros os casais em que alguém não trabalha fora de casa e se isso acontece é mais por uma razão temporária de impedimento (ex: desemprego) do que por opção própria.

E assim nasceu este admirável mundo novo em que tanto o homem como a mulher garantem o seu próprio sustento. O que trouxe um problema grave aos homens. É que há umas décadas atrás, quando o homem saía de casa para trabalhar e a mulher fazia tudo para ser a perfeita fada do lar, não podia ser particularmente exigente pois não só era aceite que o casamento era para a vida acontecesse o que acontecesse, como a mulher não tinha rendimentos próprios e portanto era-lhe difícil garantir qualquer tipo de autonomia.

Mas hoje não é assim, aliás não é mesmo nada assim. As mulheres tornaram-se exigentes, chegando ao ponto de seguirem o lema de que "mais vale só do que mal acompanhada". E como garantem o seu próprio sustento e muitas até perseguem uma carreira de sucesso, um homem tem que suar muito para provar sequer que merece entrar no seu mundo. Mas isto não é nada, pois uma vez garantido o acesso há que manter o nível, o que causa uma pressão imensa, constante, aos padrões de qualquer um. Especialmente porque ao olhar para trás tem muitas vezes a sensação de que bastaria desistir e ir a correr para o colo da mamã para ter todo o miminho (e cama, comida e roupa lavada) que quisesse.

 

Mas depois não é só isso. Ontem os homens queriam-se rudes e a cheirar a cavalo. Hoje têm que saber vestir-se, cuidar-se e estar nas mais variadíssimas situações. É muita aprendizagem em muito pouco tempo.

E os estereótipos mudaram tanto! E há tão pouca informação para validar os caminhos. Além de que os homens têm dificuldade em ter conversas mais profundas, mesmo com os amigos. Uma mulher a precisar de ajuda, pede ajuda a uma amiga nem que seja perguntando "olha lá, como é que fazes nesta ou naquela situação". O homem não pergunta, infere, o que além de muito mais complicado coloca muito mais pressão.

E agora é tudo o que é esperado dele. Esperar que seja um bom marido não é apenas que ajude nas tarefas da casa, mas também que pense nos pormenores como a mulher pensa ou veja tudo o que é preciso fazer como ela vê. Não resulta. Meninas, ajudem os vossos homens e façam uma lista ordenada do que é preciso eles fazerem ok? Além disso, é um pressuposto que ele largue as saias da mãe, o que no final é o mais difícil de tudo porque a sua mulher nunca lhe vai dar tanto mimo, atenção, ou folga como a sua mãe. É ponto assente.

E ainda, apesar de trabalhar fora e ter uma carreira de maior ou menor sucesso, a mulher espera dele que seja algo orientador, que não a deixe sozinha com as contas do mês, ou as decisões sobre obras, férias, carros e tudo o mais. 

 

E até aqui só estiveram a brincar às casinhas. Porque no dia em que planeiam o primeiro filho vem mais um sem-fim de expectativas: que seja um bom pai, que mude fraldas, que também seja capaz de tomar conta do bebé durante a noite para dar algum descanso à mãe e que engula as suas próprias necessidades. O quê? Quer dizer que depois do bebé nascer o pai só tem direito a ser pai? depende de mulher para mulher, há quem recupere rapidamente e numa questão de dias volte a ter intimidade com o seu companheiro, há quem só o consiga depois de meses porque dói, porque tem desconforto ou até porque está demasiado cansada para pensar em qualquer outra coisa além de dormir quando o bebé não está a chorar. E o pai, porque é adulto, aguenta e não chora. E aguenta quando o infante está doente ou quando acontece outra coisa qualquer e quando a sua mulher, que já lhe dava menos atenção que a mãe, agora transferiu uma boa parte do carinho para outro ser. E inevitavelmente vêm os ciumes. E aqueles pensamentos patetas de que a mulher já não quer saber dele e tudo o mais.

 

E sim, tenho que admitir, as mulheres são umas palermas. Passam tanto tempo a cuidar da casa e dos filhos e nem sempre são capazes de fazer os seus homens sentir que são importantes para elas, que fazem parte da vida delas, e que com a casa mais um menos limpa, mais ou menos arrumada o importante mesmo é estarem juntos e serem felizes. Vamos corrigir isto ok?

O que é que se passa com os homens?

por doinconformismo, em 25.08.14

Pode ser um virus mas não está identificada a forma de contágio. Pode ter a ver com uma data de validade, mas não acontece a todos ao mesmo tempo. E felizmente não acontece mesmo a todos, mas parece que quando dá forte não há nada a fazer.

Estou a falar de traições e separações e outras confusões.

Sabemos que os homens pensam de forma diferente e reagem a estímulos diferentes. Sabemos que o conceito de "perto", "arrumar" e até "necessário" é completamente diferente em homens e em mulheres. Mas não consigo perceber o que é que um homem tem na cabeça quando está num relacionamento estável com a mulher da sua vida, às vezes até com filhos mais ou menos crescidos, e vai atrás de outro rabo de saia. Assim como também não consigo entender os homens que vendo que as suas mulheres trabalham fora de casa como eles e são incapazes de dividir as tarefas caseiras, ou sequer cuidar dos filhos. Mas esse tema deixo para outro dia.

 

Vamos imaginar um casal com dois filhos que trabalha fora de casa. O que sai primeiro ou está mais perto vai buscar as crianças ou não, elas já são suficientemente autónomas para ir para casa pelos seus próprios meios, nem que seja na carrinha do colégio.

Chegados a casa, há os banhos, há o jantar, há mais ou menos trabalhos de casa e preparar mochilas para o dia seguinte (em quanto disto participa o pai?). Há alguma conversa mais ou menos de circunstância, mais ou menos importante e a seguir todos se afundam num ecran retangular, seja TV, PC, tablet ou telemóvel. E assim chega a hora de ir dormir. E assim passam os dias.

 

E o homem quer algo diferente. Quer ação, quer entusiasmo. E não há, porque a vida em família é uma rotina. E sim, pode ser uma grande seca. E em vez de se esforçar e falar com o amor da sua vida, de tentarem encontrar uma solução juntos, porque têm uma vida juntos e porque se amam, em vez disso, começa a imaginar como seria se encontrasse outra pessoa, como seria se encontrasse outra vida... do pensar ao fazer vai um pulinho e algum tempo depois acontece alguma coisa com outro alguém que deita a perder 10, 20, 30 anos de vida em comum. Não é normal! E acham que as mulheres não vão descobrir? E o que acham que vai acontecer a seguir??

 

Eu não sou homem e não sei pensar no masculino, mas estas decisões intrigam-me. Acontecem porquê? "Já não há amor"? Ou há alguém fascinado pelo seu dinheiro e capaz de fazer tudo para lhe por as mãos em cima, até que acabe? Ou decidiram que não viveram suficientemente a vida quando eram mais novos e têm que o fazer agora? Ou acham que é uma chatice trabalhar em casa e por isso têm que arranjar quem trabalhe por eles?

 

E que dizer dos que se separam e andam a "viver a vida" enquanto as suas mãezinhas cuidam dos filhos deles e da roupa deles e da comida deles e de tantas outras coisas? Será que afinal eles não queriam uma mulher e sim uma mãmã?

De facto tenho uma amiga com uma teoria de que a culpa é das mães, não preparam os filhos para a vida e depois o resultado é este. Pode ser. eu tenho essa preocupação também, de não estragar os meus. Mas vendo outros exemplos de espécimes não "estragados" pelas mães, parece-me que a propensão genética está lá, pode é ser mais ou menos potenciada.

 

E passados meses, passados anos, o que é que acontece? Os meus caros amigos percebem que estavam melhor do que estão mas que na maior parte dos casos a mulher da vida deles lhes escapou por entre os dedos e acabam por ficar com alguém que nem de perto nem de longe é tão bonita, elegante ou interessante... quando ficam com alguém. E assim se estragam anos de vida e às vezes também as vidas dos filhos.

 

Um conselho aos meus amigos homens: antes que seja tarde demais e percam o amor da vossa vida, conversem. Trabalhem em conjunto para encontrar soluções, façam cedências, que não serão menos machos por isso. Entendam o ponto de vista das vossas mulheres e façam-nas entender o vosso. E quando chegarem àquele ponto em que não entendem nada, simplesmente amem-nas. Dá muito mais trabalho mas é infinitamente mais recompensador do que sair atrás de uma outra qualquer.

Medo take II

por doinconformismo, em 14.08.14

Já aqui falei sobre o medo mas uma vez que me pediram, vou voltar a falar nisso.

Toda a gente tem medo. Todos têm medo de alguma coisa, mais ou menos longínqua, em maior ou menor intensidade.

 

Depois de tantas gatas que já tive, tenho uma que é tão medricas que treme sempre que nos aproximamos. Está sempre escondida e urina como que a marcar território, pois o seu cheiro é dos poucos mecanismos que pode utilizar para se acalmar. Escusado será dizer que tem uma vida dura, pois quando poderia dormir na nossa caminha, dorme fechada na varanda. Em vez de desfrutar de colinho e miminhos, raramente há contacto físico. E mesmo a outra moradora de quatro patas lá de casa, que não perde uma oportunidade de nos saltar para o colo seja o que for que estejamos a fazer, não a suporta. Pois claro, quem é que atura um amigo mal cheiroso por muito tempo?

 

Mas há quem, por causa do medo que tem, também cheire mal embora em sentido figurado. Porque se alguém fala em fazer algo mais arrojado se põe logo a enumerar os riscos; se a sua rotina se altera um bocadinho que seja fica logo transtornado, quanto mais quando alguém demonstra pensar pela sua própria cabeça (pasme-se, como é que é capaz!) e discordar da opinião do poder vigente. Aí seguramente perdemos um amigo.

Estas pessoas não são felizes, como a minha gata não é feliz. Não são felizes porque se formatam - a si mesmas, à sua mente, a cada aspeto da sua vida. E não saem desse formato. Não são felizes porque com tanta vida que há lá fora, os seus dias são passados a cumprir procedimentos, para garantir que nada falha e que não se correm riscos desnecessários. Não são felizes porque é difícil conciliar uma mente que pensa com uma vida controlada ao pormenor.

 

Ceder ao medo é colocarmo-nos voluntariamente num colete de forças e viver o resto da vida assim. Mas a vida serve para viver, intensamente, correndo riscos. Correndo o risco de nos apaixonarmos, de nos desiludirmos, de não sermos compreendidos, e de tudo o mais. Toda a gente tem medo de alguma coisa, mas o melhor que temos a fazer é enfrentá-lo para garantir que há liberdade na nossa vida, nos nossos relacionamentos, nos nossos pensamentos e nas nossas ações. Porque essa é a vida que vale a pena ser vivida!

Chegaram-me muitas ideias para escrever nos próximos dias. Mas hoje vou centrar-me no tema que tem feito correr muita tinta nos últimos dias: a morte do ator Robin Williams. Até podia ser pouco importante se foi suicídio, podia ser overdose, podia ser outra coisa qualquer. Até podia ter levado com um camião em cima. O importante é que ele já não está entre nós e a sua inigualável capacidade de fazer rir enquanto refletindo em coisas sérias já não se vai expressar em mais temas.

Podemos especular se a sua extraordinária capacidade cómica advém da intensa necessidade de atenção e amor, revelados desde cedo uma vez que o seu pai estava pouco tempo em casa, a mãe trabalhava deixando-o com as empregadas e adicionalmente começou a ser vítima de bullying. Mas de uma coisa tenho a certeza: um humor acutilante como o seu era decerto acompanhado por um elevado nível de inteligência, em particular de inteligência emocional.

 

Fica demonstrada esta teoria (embora empiricamente) analisando a sua performance em peças mais sérias, como O Bom Rebelde ou O Clube dos Poetas Mortos, que são aliás os meus preferidos. Em qualquer dos papéis, penso que ele tenha trazido muito do que era para a personagem. Tentando ajudar um jovem problemático ao mesmo tempo que luta com os seus fantasmas, porque nenhum de nós é 100% "bom" ou 100% "mau" e todos temas não resolvidos nas nossas vidas, seja porque não sabemos como, não temos coragem para isso ou já não temos oportunidade para isso. Mas se temos ali uma pedra no sapato, o melhor é resolvê-la ou encontrar uma forma de aceitar o tema, pois caso contrário irá estar sempre ali a magoar-nos.

No clube dos Poetas Mortos a magnífica personagem do professor John Keating, que ainda hoje me faz chorar, ensinou-me que é bom ser diferente e que se queremos fazer algo neste mundo, primeiro temos que nos aceitar a nós próprios, e mudar o que foi preciso. E se sabemos que estamos no caminho certo, não devemos nunca ter medo de chocar os que estão à nossa volta. Mas mais importante que isso: temos que ser capazes de enfrentar corajosamente as consequências de defendermos aquilo em que acreditamos.

 

Em tantos outros filmes recebemos outras tantas lições de vida. E se este ator, um "mero" ator, é capaz de pôr a pensar assim, o que não faria a ele próprio? Será que pensou demais? Será que viu demais? Será que deu demais? Nunca saberemos o que o levou a tirar a sua própria vida mas até por isso, até pelo seu cansaço emocional, lhe devemos homenagem. Porque afinal ele deu-nos tanto e houve tão pouca retribuição!

Primeiro ano de vida

por doinconformismo, em 13.08.14

Este blog faz agora um aninho. Está a deixar de gatinhar para aprender a andar, ainda aos solavancos, ainda aos tropeções...

Quando o comecei escrevia quase todos os dias. Também cheguei a estar um mês ou mais sem escrever. Mas sempre fui mantendo a atividade, que nos últimos tempos muito tem sido encorajada pelos "likes" e comentários que me chegam via facebook ou por e-mail.

 

Mas no final, escrevo para quê? ou porquê? 

Escrevo porque tenho algo a dizer. Escrevo porque vivo e observo muita coisa no dia-a-dia que me faz refletir, e o resultado dessa reflexão é normalmente o que coloco nestas poucas linhas. Escrevo porque se houver a mínima hipótese de estes textos chegarem a alguém que necessite de os ler, ou que fique feliz, ou se servirem sequer para ajudar alguém a tomar uma decisão ou a firmar-se numa decisão já tomada, então ganhei o dia.

 

Mas também escrevo porque não posso guardar todo este mundo apenas para mim e para os meus. Num mundo em que todos querem ser cada vez mais iguais, há que levantar vozes acerca de ser diferente, viver diferente. Vozes que celebrem a beleza da diferença, que mostrem que podemos ao mesmo tempo ser diferentes e fazer a diferença na vida de cada um que nos rodeia, na maior parte dos casos com coisas tão simples e tão sem esforço que nos fazem sorrir (o tema do blog é o Inconformismo, certo?)

 

E a cada texto publicado não posso também deixar de sorrir. Posso sonhar que estou a mudar o mundo com cada parágrafo, mas sei que posso muito bem estar a fazer a diferença na vida de alguém naquele dia. E é por isso, para poder chegar mais perto, mais depressa, que para celebrar este aniversário é agora possível registar o endereço de e-mail para receber a newsletter quinzenal com as novidades.

 

Mas hoje, apenas quero agradecer a todos os que me incentivaram ao longo deste ano, todos os que se deram ao trabalho de ler e comentar alguma coisa, todos os que me apoiaram. A cada um, hoje quero dizer:

 

Obrigada por estarem aí!

 

Como presente de aniversário, vem uma questão: quais os temas que querem ver discutidos neste blog? Usem o meu e-mail à vontade, vamos falar de coisas importantes!

A vida é injusta

por doinconformismo, em 11.08.14

Aqui está algo que tento passar para os meus filhos o mais cedo possível: a vida é injusta. O facto de acontecerem coisas más a pessoas boas mostra isso mesmo. Mas claro, nós gostamos de racionalizar tudo, e encontrar explicação para tudo e lá nos descobrimos freneticamente a encontrar teorias e explicações para o filho de um amigo ter falecido ou para alguém que era "tão boazinha" ter ficado sem meio de subsistência. A verdade, no entanto, é só esta: Não há explicações, a vida é injusta para todos e ponto final.

 

Pronto, agora que esclarecemos esta parte vamos à parte importante: como é que cada um reaje à injustiça que lhe cai no colo?

 

Há quem fique preso a essa injustiça toda a vida (ex: "podia ter sido alguém na vida mas não tive oportunidades de estudar" ou "o meu pai era um homem muito mau, batia-nos todas as noites e eu nunca consegui ultrapassar isso"). São pessoas que, quer lhes tenha acontecido muito ou pouco, não conseguem ver o lado bom porque ficam revoltadas com algo que as cega e paralisa.

 

Há quem aceite sem pestanejar o seu destino ("a minha mãe adoeceu, vou ter que ficar a tomar conta dela o resto da vida") e se entregam a ele sem procurar mais nada, sem sequer questionar se há mais vida além disso, se há outra forma de resolver.

 

Há quem espere que caia um raio cósmico e resolva tudo ("se eu ganhasse o euromilhões...") e tanto espera que a sua vida continua por viver e passam os dias, meses, anos, e tudo fica igual ou pior.

 

E depois há aqueles que eu admiro e muito respeito, as pessoas que não romantizam nem tentam mascarar os acontecimentos mas que, aceitando-os, tudo fazem para mudar o curso dos acontecimentos. Seja uma doença ou redução das capacidades físicas, seja um problema financeiro, seja uma crise familiar, há pessoas capazes de mover o mundo inteiro para mudar o destino. E muitas vezes conseguem. Talvez não da forma como esperariam, mas o mundo à sua volta fica de tal forma transformado que é impossível algo não acontecer - ao seu redor e dentro de si.

 

Conheço quem tenha ficado sem nada e tenha começado tudo de novo, furando por onde desse para se sustentar a si e aos filhos.

Conheço quem tenha perdido familiares muito próximos, até um filho, e que tenha feito das tripas coração para fazer essa perda ter significado para si e para a comunidade.

Conheço quem lute contra uma doença durante anos, dando exemplos de vida diariamente a todos os que tentam ajudar.

 

Claro que eu não quero passar por nada disso, mas não posso deixar de me sentir tão pequenina e insignificante face àqueles que todos os dias mostram um sorriso rasgado e vão à luta quando têm todos os motivos do mundo para chorar. Nem posso deixar de dar aqui um exemplo que muito me tem marcado nos últimos tempos: A Nonô, uma menina de quatro anos a quem foi diagnosticado um Tumor Bi-Lateral de Willms. 

 

Visitem a página, coloquem o vosso like e vejam o seu magnífico sorriso. São sorrisos como este que me dizem que apesar das injustiças vale a pena continuar a lutar!

Em modo férias... sem estar de férias!

por doinconformismo, em 10.08.14

Odeio as férias em Agosto. Odeio. Calor a mais, gente a mais, preços altos demais...

Por outro lado eu, que já amo a minha cidade, gosto ainda mais de desfrutar dela em Agosto. Múltiplas línguas, múltiplas culturas, uma luz como não há igual e o rio como pano de fundo.

Quando comecei a minha carreira profissional, há 2 décadas atrás, Lisboa estava deserta em Agosto. Deserta. Muitas empresas fechadas pelo menos 2 semanas e muitas que não fechavam mas aconselhavam veementemente os seus colaboradores a fazerem férias nesta altura. Eu, claro, estando na consultoria, também fazia parte desses números.

Mas agora tudo é diferente. Embora ainda haja alguma tolerância por eventuais atrasos na resposta a temas profissionais, o facto é que o ritmo não abranda particularmente em agosto e até é pior para quem fica a trabalhar, pois invariavelmente fica com o seu trabalho e o dos outros. 

Já não podemos, é claro, afirmar que a cidade está deserta, pois na verdade pulula com vida quer dos que a vêm visitar, estrangeiros ou não, quer dos que cá estão a trabalhar e que aproveitam para serem turistas na sua própria cidade. E nesta altura eu poderia estar a falar do Porto, Lisboa, Setúbal ou outra cidade tão visitada nesta altura do ano. É indiferente. Portugal está mais bonito e Lisboa está incomparavelmente mais bonita do que estava há 20 anos atrás.

 

Temos como exemplos toda a zona do parque das nações, desde Sacavém até quase à Matinha, excelentes esplanadas por todo o lado, rooftop bars magníficos. E as praias. Seja na linha de Sintra, Cascais, ou as minhas preferidas, na península de Setúbal. Há forma de resistir?

É por isso que em agosto sempre que tenho as responsabilidades resolvidas entro em modo férias. E é tão fácil. Com esta luz magnífica e o rio como pano de fundo, a minha família que tanto amo. Não preciso de mais nada, não tolero mais nada. A não ser bons amigos, com quem faço questão de estar e que enriquecem a minha vida a cada dia. Os dias deste fim de semana foram mais dois bons exemplos disso mesmo.

 

A quem não pára para apreciar o que tem à volta, um conselho: desfrute daquilo que tem, no lugar onde vive, com aqueles de quem gosta. Nunca se sabe por quanto tempo mais lá estarão...

Da desilusão

por doinconformismo, em 08.08.14

Dizem que à medida que a idade avança aprendemos a lidar melhor com a desilusão. Porque só se ilude quem espera muito das pessoas, quem tem sonhos alicerçados em alguma coisa ou alguém e de repente algo acontece e tudo se desmorona. E esse algo que acontece é a confiança que se esvai, a esperança que morre ou a afinidade que desaparece.

Diz o dicionário que desilusão é:

Ação ou efeito de desiludir.
Ficar sem esperança; deixar de acreditar ou de crer em; descrença. 
Sensação de desapontamento; sentimento de frustração; perda da alegria; deceção.

 

O que dizer quando se colocam expectativas num líder que já provou a sua capacidade no passado, e até integridade e de repente parece levar a sua equipa para o abismo numa decisão baseada em preferências pessoais?

O que dizer de um amigo que esteve sempre lá, com quem partilhámos as maiores tristezas e as maiores alegrias e de repente parece ter tomado uma opção que muda a pessoa que ele/ela é?

 

É doloroso. Até porque a expectativa é normalmente acompanhada de sentimentos (aquilo a que se chama amizade) e da certeza de conhecermos suficientemente o carácter da pessoa para não sermos enganados, quanto mais apanhados de surpresa. E eis senão quando a surpresa nos bate à porta, normalmente acompanhada de um furacão de emoções. E claro, de pessoas chegadas ou respeitadas por nós. Porque há aquela multidão de gente a quem somos indiferentes, façam o que fizerem. Há ainda os que são capazes de nos arrancar um "nunca me enganou", de tão má impressão que nos causaram. Mas aqueles de quem gostamos? Ou de quem queremos gostar? Ou que respeitamos a quem reconhecemos qualidades? Esses são os que nos inflingem maior dor.

 

Talvez por isso Alexander Pope tenha escrito "Feliz do homem que não espera nada, pois nunca terá desilusões." Se formos capazes de dar sem receber nada em troca, não nos desiludimos. Se nos lembrarmos sistematicamente que as pessoas (qualquer pessoa) tomam decisões irracionais, não nos desiludimos. Seremos menos humanos se conseguirmos agir assim? Talvez...

Penso que o importante será mesmo não julgarmos pessoas e situações, por muito idênticas que possam ser, por aquilo que já experimentámos no passado. Porque as motivações podem ser diferentes, as causas também. E até ao fim, é importante continuar a acreditar nas pessoas pois nunca se sabe quando nos poderão dar uma grande alegria.

 

 

É a atitude!

por doinconformismo, em 05.08.14

A nossa atitude diz tudo sobre nós. É uma boa parte da nossa imagem de marca e perante várias situações é o melhor barómetro da nossa personalidade. A forma como nos comportamos em situações de stress, se enfrentamos as situações com valentia ou se tentamos colocar as culpas em alguém. A forma como nos relacionamos com as pessoas que nos são mais chegadas, se mostramos egoísmo ou se tentamos satisfazer as suas necessidades e desejos. Até a forma como endereçamos quem nos serve, seja a senhora da papelaria ou o empregado de café. É a atitude que faz ou desfaz relacionamentos, e no limite a tenacidade demonstrada em fazê-los resultar.

 

Também é a atitude que faz ou desfaz carreiras, porque inteligência e conhecimento estão ao alcance de qualquer empresa que os queira pagar, mas aquilo que nos diferencia é a perseguição de algo maior, de fazer sempre melhor, de aprender sempre e fazer as coisas com inteligência. Há muita gente capaz de executar com perfeição... as tarefas erradas. Mas manter a humildade necessária para ouvir e processar as críticas e até para as procurar, a capacidade de nos questionarmos diariamente (será que estou a ir no caminho certo? Será que esta é a melhor decisão? Quais os resultados a médio prazo?...) e o espírito crítico que nos permite distinguir entre eficácia e eficiência, é uma raridade e um tesouro seja qual for a área de atuação - e dificilmente se cinge ao mundo dos negócios!

 

Quando toca a líderes então a atitude é ainda mais importante. Não se trata apenas de liderar pelo exemplo, que já de si é muito importante, trata-se de fazer crescer as pessoas profissionalmente sim, mas também no seu carácter, nos seus horizontes, na sua perspetiva. É fácil ser um gestor mas não é nada fácil ser-se líder. É uma luta diária, que nos leva a avaliar cada situação, cada reação, e com sorte percebermos como poderíamos ter feito melhor, como vamos conseguir melhorar da próxima vez. Observar as nossas pessoas e aprender com elas. Manter a capacidade de ouvir opiniões contrárias e perceber que (num ambiente são) não é a pessoa que está a ser visada e sim a situação ou a decisão tomada. Na verdade, ter várias pessoas na equipa com opinões diversas, por muito extenuante que possa ser, é a melhor forma de balizar as nossas próprias decisões e de nos ajudar a ver mais longe e a seguir caminhos mais sólidos.

 

Infelizmente, nem todos os líderes são assim. Aliás, poucos líderes são assim. Um verdadeiro líder distingue-se por desenvolver pessoas e fazer nascer outros líderes. No entanto, o que vemos são pessoas agarradas ao poder, ao lugar, controladores de tudo, com medo que lhes escape alguma coisa. Mas é contraproducente. Porque líderes medríocres não têm mais do que equipas medíocres e pouco comprometidas. Ao contrário, líderes inspiradores encontram o melhor em cada uma das suas pessoas e desenvolvem-nos, dando oportunidades, acreditando, ensinando, orientando, mesmo quando não têm nada a ganhar com isso

 

Quando queremos contratar alguém, mais do que falar com quem já foi seu chefe devemos falar com quem já foi seu subordinado. Quando queremos conhecer alguém, basta ver como trata as pessoas de quem não precisa.

 

 


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