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Ser normal é coisa que não existe. Todos temos as nossas particularidades e necessidades especiais. Então porquê termos que nos conformar com uma filosofia de vida "one size fits all"?
Acho que nunca escrevi aqui sobre este tema e estou a entrar num terreno que dá pano para mangas, como se costuma dizer.
E estou a escrever porquê? Porque ainda antes da primeira década de existência, a minha cria mais velha está a ganhar asas e a passar tempo fora do ninho. Ok, isso já acontece desde os 5 anos, ocasionalmente em casa dos avós e uma vez por ano com a escola. Mas desta vez é diferente.
É diferente porque é o dia do aniversário dele e já não o vai passar connosco. É diferente porque num único momento já estou antecipar o que vão ser os próximos 10 anos. É diferente porque algo que achei que ainda demorar até acontecer, aconteceu. Sem aviso prévio.
Ao mesmo tempo estou a ler as notícias sobre o filho da jornalista Judite de Sousa. Não por ser ela em particular, mas porque é uma mãe em sofrimento. E é mesmo isto que é ser mãe. Desde o parto até à morte.
Tive um filho de cesariana e nas primeiras semanas torcia-me com dores para ir buscá-lo sempre que chorava. Tive outro filho de parto normal, sem epidural e com forceps e não sei onde fui buscar forças para tudo isso e para aguentar 45 minutos enquanto era cosida e ouvia o bebé a chorar na sala ao lado. O MEU bebé. É isso que os meus filhos são para sempre, os MEUS bebés.
Sofro por eles quando estão tristes com um amigo, batalho com eles pelas boas notas, penso neles a cada hora do dia. Não me espanto que haja quem tenha medo de tudo por causa dos filhos, afinal de contas eles são tão frágeis e a nossa capacidade é tão finita!
Mas há duas coisas que as mães sabem que são infinitas: o amor e, por causa dele, a capacidade de perdoar.
Se calhar é por isso que conforme vamos amando mais e mais os nossos filhos, vamos amando mais e mais o pai dos nossos filhos, mesmo quando as expetativas não são cumpridas. E não estou a falar de coisas muito complicadas, estou a falar de coisas tão simples como tarefas domésticas.
Toda a gente sabe que os homens não pensam nas coisas como nós, e não se organizam como nós. Se queremos que as coisas apareçam feitas é necessário distribuir uma lista de tarefas e não esperar que sejam todas feitas no próprio dia em que são indicadas.
E eu vivo numa casa com 3 homens por isso acreditem, eu sei.
Mas também sei que não é impossível. O nosso filho de 9 anos já coloca e levanta a mesa e também já aprendeu a colocar a louça suja na máquina e a dobrar meias. E está prestes a aprender a engomar peças de roupa básicas. E o mais pequenino também já começa a fazer coisas simples e que entenda bem, como "deita isto no lixo" ou "leva para ali".
E também sei que todos temos dias maus em que todos estamos cansados mas as coisas têm que se fazer na mesma... e aí temos que ir com calma, com os filhos e o pai dos filhos.
E é assim, devagarinho, que o pai dos filhos se vai tornando um pouco nosso filho também ("eles parecem-se com os filhos e elas parecem-se com a mãe deles") e o vamos ensinando, perdoando, amando, o melhor que sabemos. A todos eles damos o nosso melhor, e o melhor da nossa vida acontece quando deles recebemos também o melhor. É aí que o coração fica cheio de coisas tão boas quanto inomináveis, um êxtase, uma alegria bem maior e mais completa do que ganhar o EuroMilhões. Porque os nossos filhos, cada um deles, são melhores do que ganhar a sorte grande, eles são a sorte enorme como bem sabemos a cada sorriso seu!!