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Ser normal é coisa que não existe. Todos temos as nossas particularidades e necessidades especiais. Então porquê termos que nos conformar com uma filosofia de vida "one size fits all"?
Amanhã
Amanhã vou chorar
Cobrir-me de ranho e baba
Sair a gritar
Pelas ruas da cidade fazer ouvir meu clamor
Amanhã
Amanhã vou ficar
A ver os meus sonhos desfazerem-se
Nuvens fofas sopradas pelo vento
Quieta a olhar
Castelos de areia castigados pelas impetuosas ondas
Amanhã
Amanhã vou morrer um pouco mais
Por tudo o que não disse
E o que deixei por fazer
Por abraçar
Amanhã
Amanhã farei tudo isso
Mas hoje vou LUTAR!
Sou uma pessoa independente e autónoma. Não preciso que ninguém pense por mim, fale por mim, ou até se meta entre mim e as minhas tarefas, aquelas que sei bem que tenho que fazer ou que me imponho para atingir determinado objetivo. Na verdade, até muitas vezes sou aquela pessoa meio incómoda que verbaliza o que todos pensam mas não têm coragem de falar, ou que toma a iniciativa de fazer algo que todos concordam que deve ser feito mas aguardam que seja outra pessoa a fazer. E nem preciso que esteja mais alguém do meu lado, e nem tenho medo de tropeçar ou até cair. Nem penso nisso, é preciso resolver, resolve-se; é preciso melhorar, melhora-se.
Mas tenho momentos, como qualquer outra pessoa, em que me canso de lutar sozinha. Às vezes porque estou mesmo cansada, às vezes porque a intensidade das situações me leva a isso. E nesses momentos é bom olhar para o lado e perceber que de facto não estou sozinha. Muito pelo contrário, tenho alguém que me entende e apoia, ou apoia mesmo sem entender. E nesses momentos, além de me sentir segura também descanso. E isso faz toda a diferença.
Estas últimas semanas têm sido muito intensas, quer psicologica quer emocionalmente. Cada dia tem requerido o melhor de mim e como sempre, não me tenho feito rogada em dar o melhor que tenho. O reverso da medalha é chegar a casa exausta, apenas para descobrir a cada dia que as tarefas básicas como os banhos dos miudos ou o jantar estão tratados ou em andamento. Além de uma preocupação constante com o meu bem estar. É um refrigério. É um refrigério maior do que se possa imaginar, porque só quem já passou por situações idênticas em que não teve este apoio é que sabe dar-lhe o devido valor. Porque há dias em que o que eu mais quero é ouvir o mais velho falar do seu novo jogo favorito ou dar colinho ao mais novo... mas há dias em que preferia que eles nem falassem...
Ontem à noite estava a ler o Blog "Pais de Quatro" (Aconselho vivamente a quem tem filhos) e deparei-me com este artigo. Destaco: "Sinto de tal forma essa comunhão que detesto quando na escola lhes chamam Carolina Tavares ou Tomás Tavares. Não, não, não. É Carolina Mendonça Tavares e Tomás Mendonça Tavares. Sem nós - eu, ela, os dois - eles não existiam. E sem a Teresa nada disto faria sentido." Que clique que o meu cérebro fez! É por isto mesmo que os nosso filhos não se chamam só Moura ou só Rebelo. São Moura Rebelo, assim como eu, porque são o resultado de uma vida partilhada a todos os níveis e que de outra forma não faria sentido.
E é por isso que ao fim de 16 anos de casamento e vários "cliques" deste género estou em crer que a nossa relação cresceu mais um bocadinho em maturidade!
Há alturas em que tudo parece depender de nós. Alturas em que temos que ir à luta e furiosamente decidir o tudo por tudo numa determinada situação. São momentos em que não podemos perder as forças, não podemos olhar para trás, simplesmente vamos e fazemos o que temos a fazer. Certamente teremos que tomar decisões difíceis, que nem sempre irão ser compreendidas pelos que nos rodeiam. Certamente teremos que fazer a coisa certa, que é sempre a mais difícil e certamente seremos tentados a ir por outro caminho...
Há momentos em que parece que estamos a lutar sozinhos, há momentos em que aparecem pessoas vindas sabe-se lá de onde para nos apoiar, animar, e até nos ajudar. Momentos em que nos sentimos os seres mais incompreendidos e sós do universo e momentos em que a solidariedade brota de onde menos esperamos.
Mas há alturas em que não adianta lutar. Mais, há alturas em que mesmo que quiséssemos fazer alguma coisa, nem saberíamos por onde começar, nem o que fazer. Ou andamos, andamos, e não saímos do mesmo lugar, atolados no lodo que nós próprios criámos. É nessas alturas que só nos resta esperar. E, para a maior parte de nós, é aí que começam os problemas.
E porquê? Falo por mim, que desde me habituei a decidir sozinha, a ir fosse onde fosse sozinha, a não ter que esperar por alguém. Sei o que tem que ser feito, logo vou fazer. Se não sei, penso e decido e logo mais o faço. Mas, e quando o que tem que acontecer não depende de mim, não depende nem um milímetro das minhas ações? E se eu não consigo sequer influenciar o que se passa no resto do universo? Tenho mesmo que esperar, não é?
Esperar não é ficar no mesmo lugar, esperar não é baixar os braços, esperar não é desistir. Não é sequer ir atrás da primeira promessa. É continuar, empurrar, fazer o que está ao nosso alcance enquanto não podemos fazer mais. É aproveitarmos o caminho enquanto não chegamos ao destino.
Diz o ditado que "quem espera desespera" mas quem for capaz de se manter firme tem coisas boas à chegada ("all good things for those who wait"). Então, vamos esperar, esperar que a mão invisível que comanda o universo abra os caminhos certos para que o que esperamos aconteça. E quanto tempo temos que esperar? 10 minutos ou 10 anos? Não sabemos, mas é sempre o suficiente para desanimarmos pelo caminho e pensarmos voltar para trás.
Começamos a duvidar se a mão invisível não se terá esquecido de nós, voltamos a lembrar-nos dos tempos em que cuidávamos de nós próprios, voltamos (ou pelo menos tentamos voltar) ao mesmo caminho e, eis-nos cobertos de lodo novamente. E lá começamos o processo outra vez. Ou não. Muitas pessoas ficam aqui, desesperançadas, abatidas, apáticas até. Por isso é tão importante manter a esperança, para que possamos continuar a caminhar, continuar a empurrar. Manter a esperança para manter o foco. Manter a esperança para não desfalecer no caminho.
E se a nossa porta estiver já ao virar da esquina?