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Lula, OE16, Marcelo... Olhamos chocados para uns e embevecidos para outros.

Será que a pouca-vergonha que se está a passar no Brasil retira algum mérito a ideologias de esquerda? Ou apenas nos mostra que em qualquer setor de qualquer sociedade há sempre um punhado de gente mal formada que tenta salvar a pele seja de que maneira for? E a triste analogia que uns quantos patetas tentaram fazer com o Caso Sócrates mostra alguma coisa? Ou apenas atesta mais uma vez que cada um acredita no que quer e não nas provas reunidas (ou neste caso, falta delas)?

A mesma coisa em relação ao OE16. Este orçamento quanto a mim tem várias virtudes. A primeira das quais demonstrar que a esquerda portuguesa, quando quer, sabe unir-se e sacrificar-se para o bem comum. Relegando para segundo lugar as suas ideologias mais ou menos radicais, em favor do país. Que, já sabemos bem, não é constituído por famílias de elevados rendimentos (acima de 80.000€/ano existem apenas 11.100 famílias) mas de rendimentos estupidamente baixos (3,5 Milhões de famílias abaixo dos 7.000€/ano. Fonte - simulador EY/Expresso). Quase 70% para quem não sabia, para quem pensa que o país real é constituído por gente que anda de carrinho para cá e para lá e tem acesso a medicina no privado e come fora todos os dias.

Enganem-se. É por isso que para mim este OE tem mais uma (grande) virtude. É claramente um orçamento de esquerda, que baixa as taxas moderadoras e penaliza o consumo, que reduz a carga dos primeiros escalões de rendimento para compensar nos últimos. É assim que deve ser, pelo menos no momento que o país atravessa.

Calem-se os profetas da desgraça, que vamos todos ficar mal vistos e que já não vamos ser o "bom aluno" da Europa. Já é evidente que essa conversa não pega, e tanto que não pega que este orçamento já foi considerado pelo coletivo de economistas do "Budget Watch" como o melhor desde 2010. Boa, Centeno!

E depois, as idiotices do costume: quantas taxas de IVA numa única fatura de restauração? porquê baixar o custo dos copos mentruais? (pensam que alguma vez eu vou usar uma coisa daquelas???) e mais um conjunto de exemplos que são relativamente inócuos, sim, e não beliscam o essencial do orçamento: é bom.

Até (quase) faz esquecer a forma reles como a esquerda se comportou na tomada de posse do novo Presidente da República. Será a ideologia que faz as pessoas comportarem-se como idiotas? As ideologias de esquerda são boas para garantir igualdade de oportunidades, as de direita para incutir meritocracia. Todas são más no que toca a colocar palas nos olhos e fazer pessoas decentes comportarem-se como animais.

Mas Marcelo tem muito savoir faire, que lhe permite continuar impávido no seu caminho de afetos. Não votei neste candidato mas confesso que estou meio divertida meio esperançada face ao seu início de mandato. Ele é uma pessoa decente com valores sólidos e é disso mesmo que precisamos no nosso país e no mundo inteiro: pessoas que se preocupem com pessoas. 

Desafio por isso os meus amigos a medir até que ponto é bom ter ideologias e a partir de que ponto é importante colocarmos mãos e corações à obra para um bem comum: as pessoas.

Somos todos Charlie?

por doinconformismo, em 08.01.15

Desde sempre que ouço que é impossível discutir convições no futebol, política e religião. E porque ouço isso? Porque até há 40 anos atrás não se podia falar abertamente de alguns destes temas? Ou porque não existia tolerância? E hoje, há?

Se quando alguém ataca o meu clube de coração, fico logo com vontade de lhe passar com um tanque de guerra por cima; se na política fervo assim que percebo que alguém não tem a mesma ideologia que eu; o que descrever então quando toca à religião?

A forma mais básica de comandar é uniformizar. Se formos todos iguais, basta reprimir quem é diferente. A história mundial dá-nos quantos exemplos quisermos, do império Romano aos grandes ditadores do século XX. Mas se olharmos um pouco mais (não é preciso ser muito) atentamente vemos também que há sempre quem resista, quem se recuse a ser formatado, quem combata o poder vigente.

Há quem o faça e seja um herói (como no filme Gladiador, ou como a Resistência Francesa ao poder nazi). Há quem o faça e seja o chato de serviço, o exemplo acabado de pain in the ass. O Charlie Hebdo cai neste último caso. Um tabloide que goza com tudo e com todos e a cuja sátira não escapa ninguém. Um jornal comparável ao Diabo. Que nem sequer é levado a sério. E então? Não tem também que ser tolerado a bem da liberdade de expressão?

Mas esta conversa não se aplica aos radicais islâmicos apenas. Será que quando os senhores do Charlie atacaram as crenças católicas não houve quem desejasse viver em plena Inquisição, só para lhes dar o que merecem?

Este é só um exemplo. No dia a dia lidamos com variadíssimas pessoas que não só não pensam como nós e não acreditam no mesmo que nós, mas ainda nos criticam e chegam até a irritar-nos por isso. Vamos fazer o quê? Tentar eliminá-los, ou aceitá-los?


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