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Ser normal é coisa que não existe. Todos temos as nossas particularidades e necessidades especiais. Então porquê termos que nos conformar com uma filosofia de vida "one size fits all"?
Sinto
algo por vezes
Que não me deixa avançar
Não é instinto, são laços
Laços de mim
Laços
Não me fazem voar
Quase nem me levantar
Não me ajudam a correr, enfim
São laços de mim
Quem me livra destes laços
Quem me ensina a voar
Sumam-se oh fantasmas!
Não são medos, não são nada
São bela seda bordada
De veludo e de cetim.
São laços de mim
Once upon a time, in a company far, far away...
Começou por ser uma espécie de pardieiro. Um edifício menor e mal tratado. Que a certa altura sofreu obras de renovação para ter a honra de receber uma equipa de trabalho tão especial como os seus objetivos. Não sabíamos, quando chegámos àquele piso daquele edifício menor, mas haveríamos de ser muito felizes ali. Durante quase 8 anos.
No início era estranho. Tinhamos uma equipa focada em entregar muito, bem e depressa, uma equipa que controlava tudo o que se entregava, uma equipa que não obedecia a nenhum padrão conhecido e outra que insistia em definir a maneira certa de fazer as coisas, contra tudo e contra todos. E tivémos que encontrar a dinâmica certa para encaixar as nossas funções. Todos os dias tínhamos discussões. Todos os dias conseguíamos enumerar o que estava errado nos projetos e na organização em que trabalhávamos e como se podia melhorar.
E a refilice sobre o ar condicionado! Oh gente friorenta!! E a refilice sobre qualquer tema, porque o importante mesmo era refilar. De tal maneira a dinâmica era grande naquele piso que foi necessário criar uma lista de distribuição, caso contrário não havia como acompanhar todos os acontecimentos e discussões.
Work Hard, Play Harder
Todos os dias havia uma sessão de gargalhadas. Ou de bolinhos. Ou de dança. Ou de copos. E mais as festas na varanda. E as vezes que o Pedro levava a viola e sempre alguém se punha a tocar e, claro, eu tinha que ir lá trautear qualquer coisa. E quando apareceu um taco de beisebol e qualquer coisa servia de "bola".
E ainda os lanches de aniversário. E de carnaval. Ou do que fosse, tudo servia como pretexto. Além do gabinete da Gerência, que parecia ter mel.
E as grandes festas de despedida, com letras feitas a rigor (nunca os Gato Fedorento, com os seus Rústicos pelo Epicurismo, irão saber o quanto nos inspiraram!) onde nunca faltou criatividade e humor inteligente (Obrigada Eduardo!)
No final do ano passado muitos de nós saímos dali para outros edifícios. E hoje a DL tal como a conhecíamos fecha definitivamente as portas. É o fecho definitivo de um ciclo onde fomos felizes mesmo sem o saber.
Muito acontececeu na DL, mas não fica na DL (não que eu queria comparar um edifício menor com a cidade luminosa de Las Vegas). Nem sequer fica apenas na memória coletiva. Cada um que por lá passou (ou mesmo não tendo passado muito, como a Hélia, viveu o mesmo ambiente) leva um pedaço dentro de si, evidenciando mudanças por causa do que ali viveu.
Não fica na DL, fica nas amizades. Em cada t-shirt cuidadosamente desenhada e assinada. Em cada moeda de centavo colocada dentro do mealheiro com nome de mulher de rua. Em cada sorriso quando nos encontramos. Em cada "granda palhaço" ou "cansam-me tanto". Sabemos que não vamos voltar a trabalhar juntos e mesmo que o fizéssemos não ia ser o mesmo, mas o que ali vivemos já ninguém nos tira!
Se eu tivesse um irmão puxar-lhe-ia o cabelo todos os dias.
Havia de jogar com ele todos os seus jogos preferidos, incluindo futebol e ufc. E fariamos autênticas maratonas de GranTurismo e MotoGP na PlayStation.
A nossa mãe havia de contar sempre que me tornei uma maria-rapaz por causa dele (o que era só um bocadinho verdade) e que lhe roubava os carrinhos para brincar na escola enquanto continuava a desfazer todas as bonecas que me ofereciam.
E quando crescêssemos eu dar-lhe-ia 300 conselhos por dia sobre as mulheres... mesmo que ele não quisesse. E ia controlá-las e testá-las para ver se realmente eram merecedoras do MEU irmão, do meu companheiro. Para não falar das cenas de ciúmes sem fim quando ele preferisse sair com elas em vez de mim (ou seja, de todas as vezes). E claro que iria chorar no seu casamento. E aproveitar todas as oportunidades e mais algumas para apaparicar os sobrinhos, levá-los a todo o lado e deixá-los fazer o que quisessem.
Se eu tivesse um irmão certamente lhe iria atazanar o juízo todos os santos dias, até que um dia ele sentiria a falta por eu estar demasiado ocupada a estudar, a trabalhar ou, também eu, a namorar. Mas todos os dias certamente olharia para o fundo dos seus olhos para me certificar que tudo estava bem, e seria a primeira a dar-lhe colinho, ou chocolate ou até uma cerveja quando não estivesse.
Se eu tivesse um irmão, quer ele quisesse ou não, iria ser a melhor irmã do mundo. Seja lá o que isso queira dizer.
Dia dos irmãos - 31 de maio