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Ser normal é coisa que não existe. Todos temos as nossas particularidades e necessidades especiais. Então porquê termos que nos conformar com uma filosofia de vida "one size fits all"?
Uma cama de rede num local só meu, o som do mar a enrolar na areia e alguém especial para amar. É tudo o que preciso.
Só preciso de escolher bem o local onde vou estender a cama de rede, um local onde possa ser mulher sem medo de ser violada (ou estuprada) ou vendida para escrava.
No Brasil há um caso de estupro a cada 11 minutos. Na Índia, só em 2011 foram registados mais de 220 mil casos. Fora os que não se conhecem. Afinal de contas qual é a mulher que quer ouvir que a culpa de ter sido violada é apenas sua? Por ter posto mini-saia e decote, ou por andar na rua àquela hora (seja ela qual for), ou apenas por ser mulher.
Fora o tráfico humano, a quantidade de mulheres indianas que estão a ser vendidas como escravas sexuais para o Estado Islâmico. O horror vivido na Nigéria, desde as meninas raptadas da escola e utilizadas como escravas sexuais ou até as que estão a ser utilizadas como bombas humanas.
A partir de onde o assédio se torna violência? Será que a violência verbal e psicológica está apenas na mente da suposta vítima? É preciso violação para haver crime? Como se prova a violência sem o habitual "são necessárias mais provas"?
São questões a mais quando considero o local onde estender a minha rede. Prefiro esquecer. Esquecer que a violência existe e que não é preciso ir para outro continente nem sequer para outra cidade para a enfrentarmos. Esquecer que na maior parte dos casos a mulher sobre quem é exercida a violência (verbal, física, chegando mesmo à dita violação) é vista como a culpada. Esquecer que também sou mulher. Esquecer que tenho amigas, sobrinhas, que poderei vir a ter netas. Esquecer, esconder, confundir-me com a areia que contemplo...
Não posso dizer que tenha escolhido a escrita.
Sim, gosto de escrever e de ler, sempre gostei. Desde que me lembro que gosto de fazer exercícios de matemática, de cantar, de passar uma noite acordada a ler um livro apaixonante, de escrever. E de programar, mas nem por isso me tornei programadora, embora tenha desenvolvido várias aplicações e até jogos, na minha vida profissional e não só. Nem me tornei professora de matemática, embora tenha dado explicações desta disciplina (e de outras) durante alguns anos. Nem sequer cantora, embora tenha sido solista e líder em vários grupos durante vários anos. E noites inteiras acordada só mesmo quando tem que ser.
Mas no que diz respeito a escrever, há algo de muito diferente. Sempre escrevi e nunca dei muita importância a isso. Mas ultimamente a escrita persegue-me.
Tal como este texto, as ideias chegam-me, incomodam-me, batem-me à porta da imaginação, fazem barulho. E não desistem até que eu as registe. Até que partilhe. Dançam à minha volta com o volume no máximo. E só descansam quando lhes faço a vontade. Quando as transformo num texto estruturado e inteligível, então descansam.
É por isso que não posso dizer que escolhi a escrita. Foi ela que me escolheu e que me persegue. E que tamanho privilégio isso é!
Vesti-o
como uma segunda pele
ficou
profundamente tatuado em mim
Não digas
que não há caminho
que chegou ao fim
como posso despi-lo
se é tudo o que me cobre
como posso entregar
tantos, tantos anos de dar
o que tinha de melhor
e agora, dor
Fica tudo o que aprendi
bem vejo o quanto cresci
não posso separar-me
de ti
Do casulo sairei
e decerto encontrarei
novo caminho feito
por ti
21 de maio dia da diversidade cultural. Dia da 2ª tertúlia incOmum.
25 de maio dia de África.
África minha, África nossa, tantas vezes abalada
Mulher forte, mesmo quando cai não fica prostrada
Pobreza em cada esquina, em cada rosto um sorriso
Pouco te é necessário num futuro impreciso
África mãe, feita de dores e de lágrimas
A quem os filhos pequenos foram tirados
Violentada, forçada a trabalhos pesados
Subestimas tuas riquezas raríssimas
África de todas as cores, a tua diversidade
Espanta-me a cada dia, causa-me saudade!
Tenho mixed feelings acerca de África. Pelo que o meu pai lá sofreu, obrigado que foi a ir. E que ainda sofre. Pelo que vemos a cada dia (ou não vemos, pois muitos fecham os olhos) que se passa na Nigéria, em Angola, em toda a região da Somália, entre outros.
Mas depois há os sons, oh meu Deus os sons e aquele ritmo maravilhoso. E a comida! Podem acenar-me com calulu, moamba, o que quiserem, mas o sarapatel faz-me crescer água na boca.
E a afável simpatia de povos como os moçambicanos, dá vontade de conhecer mais e mais.
De uma coisa tenho a certeza: quem esteve em África vai trazê-la para sempre entranhada na pele. É para essas pessoas que se destina a 2ª Tertúlia incOmum intitulada África Minha. Sábado a partir das 19:30, com tudo o que temos direito e que diz o folheto abaixo. Melhor, só experimentando!
Quando foi que deixámos de pensar pela nossa cabeça? Quando foi que deixámos de exercitar a massa cinzenta de que formos dotados?
Nunca como hoje tivemos tanta informação disponível. Mais do que disponível, acessível. À distância de um clique.
E nunca como hoje nos acomodámos a ver o que nos põem à frente dos olhos, a acreditar no que nos querem fazer acreditar, ao mesmo tempo que vemos os media a transformarem-se numa máquina maquiavélica de manipulação. E deixamos.
Deixamos pois. Vejamos alguns exemplos:
- vem a moda de que o leite faz mal. Vamos todos deixar de beber leite porque faz mal e vamos antes ingerir sementes de chia. Não estou a dizer que é má ideia, estou a dizer que é uma moda como outra qualquer. É certo que o processo de ultra-pasteurização do leite não o torna saudável, mas isso já é assim há muito tempo não é?
- vem um grupo de gente com processos abertos na justiça juntar-se para à viva força retirar a Dilma do poder. Ok, assumamos que o PT é corrupto. Mas que mais informação há hoje que não houvesse nas eleições? Eleições que o PT ganhou, já agora. E outra questão: o que leva tão boa gente a crer que os que se uniram no impeachment, não conseguindo formular uma acusação concreta, serão menos corruptos? porque o número de processos abertos não é isso que indica
- vejo multiplicarem-se artigos mais ou menos científicos, de gente mais ou menos respeitada, do que deve ser feito para um casamento de sonho, o que nunca deve ser feito na educação dos filhos, como combater a hiperatividade e mais um monte de temas que sendo bons temas, de virtuosa discussão, não são resolvidos com listas de "do's and don'ts". Que essas listas sejam boas para nos fazer pensar, ok. Mas os tomadores de decisões das nossas vidas devemos ser nós próprios.
Sim, a vida não depende exclusivamente de nós. Mas depende em boa parte. E ou nos mostramos capazes de tomar as nossas próprias decisões ou alguém (seja outra pessoa ou o acaso ou o que for) as tomará por nós. E nesse caso corremos o risco de chegar ao fim dos nossos dias concluindo que a vida que vivemos não era realmente a nossa.
Curioso como o tempo passa.
Começamos a trabalhar e pouco depois começamos a ir a casamentos. Os casamentos dos amigos. Chegamos a ter vários num ano só, o que nos rebenta com o orçamento além da paciência.
Depois os filhos. Tão irritantes os primeiros casais que decidem começar a ter filhos e que por causa disso já não podem andar connosco até altas horas nem a qualquer dia. Até que chega a nossa vez.
Infelizmente há também uma vaga que parece estar muito na moda: as separações, os divórcios. Parece estar tudo muito bem e de repente vemos logo de uma vez dois ou três casais de amigos com problemas, alguns irresolúveis. E o inevitável acontece.
Depois, os filhos adolescentes. Pais e mães à beira de um ataque de nervos, prontinhos para transformar qualquer reunião num grupo de apoio ou terapia de grupo.
Até que os nossos pais começam a ficar doentes, debilitados, e aí a nossa atenção dilui-se. Vemos os pais ou as mães dos amigos a partir e rogamos pelo que temos de mais sagrado que os nossos sejam poupados a essa lei malvada que nos tira o pé de apoio quando menos esperamos.
Outros ciclos vêm depois. Os filhos que emigram, que casam, que saem de nossa casa. E que antes disso já quase não víamos porque estudam e trabalham e namoram e têm hobbies e amigos. Os netos que surgem, tarde, e que esperamos ter a sorte de viver o suficiente para os ver crescer. Os próprios amigos que vemos desaparecer e que levam também pedaços do nosso coração.
E quando vemos o dia em que nós próprios temos que partir é que percebemos que não amámos o bastante, não rimos o bastante, não abraçámos o bastante, não perdoámos o bastante. E tanto fica por fazer, por dizer...
Façamos, enquanto é tempo, tudo o que podemos pelos que amamos, de longe ou de perto.
Perdoemos.
Não percamos uma só oportunidade de dizer aos nossos queridos o quanto os amamos, o quanto nos orgulhamos deles.
Ou de rir, até de nós próprios.
Façamos o mundo de alguém brilhar a cada dia, pois o nosso maior legado é a diferença que realmente fizemos na vida de uma pessoa.
Quanta luz já espalhaste hoje?
Não sei bem
Como foi que tudo começou
Nem quando terá começado
A vida corria célere e tudo parecia normal
Em peso, altura e largura
Menos uma fraqueza aqui e ali
Uma fraqueza?! Que só eu pareço sentir
E outra e ainda outra, a intervalos mais curtos
É só falta de descanso, dizia eu para comigo
Mas o descanso não resolve, respondia o meu eu
Já cansado
Já exausto
Já desesperançado
Que será então? O que se pode fazer?
E logo numa destas voltas
Surpresa, sou confrontada com a realidade cruel
Estarei mesmo assim tão mal?
Será perdido o meu caso?
Será esta a razão que consome todas as minhas forças
E o meu pensamento?
Será porventura o que me rouba a razão? E a minha total concentração?
Antes estivesse apaixonada. Ouviria assim o agradável canto dos pássaros ao meu redor.
Mas não. Pelo contrário. Tento mexer-me e o corpo não responde. Nem um único movimento.
Socorro! Estou a afundar-me no pântano de mim!
Mirrada. O que sou e o que poderia ser.
Nem sempre
A identificação da origem é suficiente
Para resolver
Há que ganhar coragem, determinação
Cortar o mal pela raiz
Firme na resolução
Sei que vou voltar a ser feliz!