Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Ser normal é coisa que não existe. Todos temos as nossas particularidades e necessidades especiais. Então porquê termos que nos conformar com uma filosofia de vida "one size fits all"?
Como é possível que se ouça de vez em quando alguém dizer que ao fim de tantos anos pensava que conhecia uma certa pessoa mas não a conhecia de todo?
Quando podemos ter a certeza que conhecemos alguém, além daquilo que é patente à primeira vista?
A verdade é que todos nós, mesmo os mais transparentes, mesmo que queiramos fazer-nos conhecidos, não temos a possibilidade de passar tudo o que somos para todos verem. Por isso acabamos por nos ir conhecendo uns aos outros em camadas, e para isso a chave é o relacionamento.
Podemos ler muito acerca de alguém, que isso não nos dá conhecimento completo da pessoa. Podemos ler o que essa pessoa escreve, que pode já se aproximar mais do seu íntimo. Mas para realmente conhecermos alguém temos que experimentar a sua presença, estarmos juntos em diversas situações, e em particular em situações adversas. É nos momentos difíceis que ficamos a conhecer-nos melhor a nós próprios e aos que estão connosco.
Quando começamos a agir em nome de alguém é bom que o conheçamos mais do que superficialmente, mais do que um nome apenas. E isto aplica-se a tudo, sejam pequenas decisões de âmbito familiar, delegação de trabalho ao nível profissional ou até quando a Igreja se move em nome de Deus. Porque quando não conhecemos bem a pessoa em nome de quem agimos, as suas expetativas, motivações e objetivos, e até a forma como essa pessoa quer ser conhecida, vai dar mau resultado. Se o meu marido quer um novo gadget mas em vez disso eu vendo todos os que temos em casa para podermos fazer uma viagem, não vai correr bem para o meu lado (sim, parece um exemplo disparatado, mas apenas parece). Se o meu chefe ou patrão querem resultados financeiros impecáveis mas eu invisto todo o orçamento em iniciativas que só dão resultado a longo prazo, não me vai correr bem. E que dizer da santa inquisição, das cruzadas e de outras iniciativas que tornam claro que de Deus nada havia a não ser um nome usado em vão?
E não é assim também nas amizades? Mesmo aquelas pessoas que nos cativam à primeira vista não devem ser conhecidas pelo que são? Como conhecê-las senão observá-las e investir tempo na sua presença?
Por outro lado, quando é que deixamos de conhecer uma pessoa? Observo muitas pessoas que vivem anos e anos lado a lado e não se conhecem, não conversam, não investem. Se calhar quando tiveram filhos habituaram-se ao trabalho e aos filhos e agora que estão sozinhos existe um vazio que já não sabem preencher. Ou se calhar têm outras coisas na cabeça, mas qual o objetivo de estarmos com alguém senão desfrutar da sua presença?
No dia em que deixo de investir num relacionamento, nesse dia fico a conhecer a pessoa um bocadinho menos. Se passarem muitos dias passa a ser como canta o Rui Veloso "e tu vinhas e falavas/falavas e eu não ouvia/e depois já nem falavas/e eu já mal te conhecia". Não vamos deixar que isso aconteça connosco, vamos investir tempo com os nossos amados e amigos hoje!